As diferentes razões para aprender o árabe são observáveis tanto nas motivações dos elementos das turmas, como na própria estruturação dos cursos de árabe da comunidade islâmica de Lisboa. Estes cursos ramificam-se, a partir de certa altura, em três vertentes: “Corão”, “Traduções” e “Speaking”, o que demonstra que há várias tendências para a aprendizagem do árabe. De facto, há uma lógica empresarial de aquisição de competências e enriquecimento de currículo. Há também uma tendência ligada às humanidades (que estão a passar um “mau bocado” neste mundo), ao gosto de estudar as Religiões, as culturas, as línguas. O árabe que aprendemos é, no entanto, um árabe “de rua”, que não tem o detalhe do árabe da recitação corânica que já nos leva para a dimensão de procura religiosa que se traduz em aproximações e conversões ao Islão.
Quanto às conversões, há, a nosso ver, muito que se lhe diga, seguindo a nossa reflexão anterior sobre “personalidade e anonimato”.
Existem vários níveis naquilo que poderíamos chamar de “conversão intercultural”, neste caso da conversão de portugueses e portuguesas, ocidentais, ao Islão. Um nível específico prende-se com questões matrimoniais e da conversão por motivos de casamento com um muçulmano ou com uma muçulmana.
Depois temos um nível, que é mais periférico, sobre o qual nos iremos agora deter um pouco. É o nível de quem é aliciado por elementos de enriquecimento da personalidade, por adornos culturais ou estéticos com os quais se deseja identificar e revestir.
Ora, este nível periférico tem pés de barro. Em primeiro lugar porque o sujeito procura enriquecer a sua personalidade com elementos exóticos de cariz religioso. Só que a religião é precisamente uma via de submissão dos elementos da personalidade a uma ordem que os “arruma” mas que em certa medida os aniquila (“mort avant mourir”, vide Schuon. Fr.). Procuramos portanto revestir-nos com uma religião que é ordem de desnudamento, aniquilação e submissão. E por isso mesmo, de Paz e Liberdade.
Pode haver desajustes face à sociedade laica moderna ocidental que radiquem em desarrumações psicológicas e que levam a busca do Islão enquanto alternativa de vida. Esta é uma questão delicada, pois o desequilíbrio psíquico e certas sensações de “estrangeirismo” face ao Ocidente não são os melhores motivos para buscar o Islão. No entanto compreende-se esta situação devido aos tremendos efeitos da educação (ou formatação) laica Ocidental.
Quanto a um outro nível, central, do verdadeiro chamamento de devoção do crente, como é óbvio, sobre esse nível, e em sintonia com a conhecida afirmação de Wittgenstein, nada diremos.
Francisco Ferrro
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