Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014

Tiago Alberione, a universalidade do seu pensamento e a consequente corporização dos seus ideais sem fronteiras pela acção dos seus testamentários ideológicos

 

Imagem retirada daqui.

 

 

 

O pensamento de Tiago Alberione surge-nos mesclado de inquietações fundadas numa preocupação constante de harmonizar a acção da sua Sociedade São Paulo com a Tradição da Igreja e a angústia de, não pisando terrenos de contestação e da ofensa à Instituição, trilhar os prementes caminhos de uma mudança que sente não poder ser aprazada, e ser por tão poucos entendida.

Desgastou-se o senhor Teólogo nesse esforço de manter o olhar em objectivos propostos pela realidade histórica e a necessidade de, permanentemente, ter de justificar o arrojo, a temeridade e, não poucas vezes, suspeitada indelicadeza de afrontamento às hierarquias.

Foi no seu espaço de privilégio – a Imprensa – que deu o peito, em batalhas que, frequentemente, não se ficavam pelas acesas trocas de ideias. Ele intuía já o peso e o alcance da informação alargada, como elemento determinante na formação das opiniões, mesmo daqueles que se encontravam nos centros de decisão.

Desvalorizando os rumores que procuravam comprometer a Obra, pela simples e circunstancial incapacidade no cumprimento de algumas responsabilidades financeiras, ele socorre-se da Imprensa, num esforço de relativização dos aspectos puramente materiais se comparados com o Bem maior de fazer chegar o ensinamento a todo o homem, em qualquer lugar.

Em 10 de Agosto de 1922 – então, com 38 anos de idade –, no auge das dificuldades de implantação e de consolidação da Sociedade, com diversos projectos em fase em­brio­nária, soa este grito, no periódico Unione Cooperatori Buona Stampa, sob o título «O grande desejo e o anseio mais forte»:

 

«Uma sede inextinguível de ler e de aprender atormenta a humanidade e todos procuram jornais e livros: pedem-nos as crianças, os adultos e os velhos; as pessoas intelectuais e os trabalhadores braçais, e das missões chegam-nos, insistentes, a voz dos vigários apostólicos e dos missionários, os quais pedem a esmola de livros, de livros bons, de muitos livros; porque chineses e indianos, negros e orientais, despertam-se de longo sono, querem aprender, querem ler.»

 

E, em 1952, na apresentação da revista Via, Verità e Vita, deixaria explícito:

 

«[A revista] dirige-se a todos, inclusive àqueles que não conhecem a Jesus Cristo, a Igreja, ao próprio Deus: porque parte da consideração do homem como ser racional. Portanto, dirige-se aos hereges, cismáticos, católicos; aos pais, ao clero, aos mestres, à Acção católica, aos sociólogos.»

 

Que incompreensível responsabilidade sente este homem, para viver tal inquietação, como se de si só dependesse a resposta a dar a esta emergência histórica!

Passado um século, não podemos deixar de nos sentir tocados pela transcendência dessa preocupação. Vemo-lo como um homem a quem o imediatismo não toca, tocam-no sim, as grandes causas do Homem, comprometidas pela Ignorância.

 

«A Sociedade de São Paulo para a Boa Imprensa quer atender a esta necessidade de produzir bons livros, bons jornais e de difundi-los muito, muito, e para realizá-lo, o que é seu vasto programa, pede a cooperação de todos e lança, portanto, entre os católicos, um ardoroso e veemente apelo.»

 

Este apelo pretendia sensibilizar a uma forte adesão a três grandes projectos: a Associação dos escritores e jornalistas católicos, Associação do clero católico para a Boa Imprensa e a União dos Cooperadores da Boa Imprensa. Sabe-se que, destes projectos, só criou algum corpo a União dos Cooperadores. Mas assiste-nos a certeza de também sabermos quão difíceis são as interpretações dos desígnios misteriosos de Deus. São Francisco começou pelas obras da Igreja de São Damião, pela dificuldade de, num primeiro momento, perceber que não era da Igreja de pedra que Jesus falava, quando se referia às ruínas da sua Igreja.

A imediatez das coisas, em cujo âmbito nos movemos, entorpece-nos o entendimento, e, frequentemente, tolda-nos o alcance da subtileza. Porém, o afinco na pertinácia de alcançar o desígnio intuído pela inspiração, resulta sempre numa clarividência de resultados insuspeitados. Isto – sabemo-lo pela sua herança testamentária – o alcançou Alberione.

 

«Onde quer que os filhos de São Paulo se apresentem com o seu apostolado específico, no final de contas eles vencem. É grande o apostolado; não percamos a nossa glória.»

«É o grande apostolado» o timbre de um ensinamento que nos foi legado e, nessa sequência tem sido o esforço da Família Paulista em conformar a sua acção com a dilatação do pensamento do Fundador.

Isso tem ficado notório na forma da Instituição trabalhar e de se relacionar no espaço social, tendo sempre transmitido e ajudado a sedimentar uma imagem de fidelidade à ortodoxia e à prática cristãs, mas numa abertura de invulgar e, por vezes, tal como Alberione, deficientemente compreendida.

 

Rui A. Costa Oliveira

CLEPUL – Fac. Letras/Univ. Lisboa
e Centro Invest. C. Religiões – Univ. Lusófona

Publicado por Re-ligare às 15:27
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