Domingo, 15 de Dezembro de 2013

Quando um faz a diferença, dois fazem mais…

(Foto retirada daqui)

 

Ao visitar o Minarete Qutbar, em Delhi, o  segundo monumento mais visitado na Índia, após o Thaj Mal, ouve-se a história repetida em muitos lugares turísticos. O Sultão  chegou, cheio de poder, e quis construir a maior mesquita, minarete de 15 metros de diâmetro e 70 de altura. Faltava pedra mas havia muitos templos hindus à volta. Está resolvido: a pedra deles serviu. Já bem trabalhada  de ricos baixo relevos. Minarete e mesquita foram erguidas. Depois veio outro sultão e quis fazer minarete ainda maior, tudo a dobrar, base e altura; não lhe faltou   pedra mas vida para o acabar. Agora os milhares de visitantes contemplam ruinas dos templos, da mesquita e do  minarete inacabado. Assim passa a glória humana…

 Há um monumento a Gandhi; e um museu no local onde ele falou pela última vez e onde foi assassinado. O mapa fornecido no hotel assinala o monumento a Gandhi mas não o museu.  Será por nele Gandhi falar do Deus único? O museu é, de facto,  uma biografia impressionante deste santo que fez a diferença para Índia. Profetizou poucos instantes antes dar a vida. Todo o parque e museu é um lugar de meditação religiosa e   apelo à fé no Deus único que ama  perdoando ao arrependido e que  quer estar no seu coração mesmo quando é assassinado: “Deus deve estar  no meu coração e nos meus lábios” quando me matarem, disse Gandhi. Ah isto, sim, dirá alguém, é uma religião, o hinduísmo! Vamos ver.

A segunda figura mais venerada de toda a Índia, dizem não poucos, é a Beata Madre Teresa, pelo que ela foi,  fez de bem e  disse. Ah! assim, sim, dirão outros, isso é que a fé cristã católica.  Afinal um Hindú e uma Católica  fazem a diferença na Índia, hoje. Por cada um ou uma que faz a diferença poderá haver mil que  não fazem qualquer diferença.

Nas leituras  litúrgicas do dia seguinte, lia-se a narração de Israel  no tempo dos juízes e o esquecimento da aliança  com o único Deus e  entrega à adoração de  ídolos. Deixavam de fazer a diferença como  crentes. E no evangelho era a história do homem que  queria saber o que devia fazer durante a vida  para ter a vida eterna. Não estava disposto a trocar os seus ídolos de riqueza  por Jesus Cristo e a segui-lo. Não fez a diferença.

Para fazer a diferença, o homem e a mulher, precisam de  sinceridade e harmonia entre o  seu dizer e o seu acreditar, o que se acredita de Deus com palavras e o que se vive: nunca fazer mal para conseguir o bem. Acreditar e viver  que Deus é um só e ama a todos e nunca aceita  o ódio como cultura, nem que a “caraterística da nossa época tenha de ser o crescimento da cultura  da “ofendidade” (offendedness)”  orgulhosa, (vulgo, indignação dos “indignados”), como  dizia   o famoso romancista Salman Rushdie, in Mail Today, Sunday, August 18,2013.  Gandhi e Madre Teresa fazem a diferença, um acreditando num Deus único de amor e perdão no coração e nos lábios, a outra  acreditando nesse mesmo Deus Pai de todos e no seu Filho Jesus Cristo, rosto visível do Pai, presente em todos miseráveis, mesmo dalits e caminhando com todos. Um guia também  reconheceu que ajudar um só que seja dos muitos mendigos e miseráveis que assediam os  turistas, já faz a diferença. Nem  Mahatma Gandhi  convenceu a todos com o seu exemplo, nem a Madre Teresa resolveu a miséria de todos os miseráveis da Índia; e nem Jesus Cristo no seu tempo curou de todos os males temporais a todos os sofredores; nem foi  principalmente para isso que Ele incarnou e viveu nas tendas humanas. Veio para remediar males maiores, os do ódio e do amor, os da vida  até à eternidade. Mas os três fizeram a diferença.

 

Nova Delhi e Agra, agosto de 2013

 

Aires Gameiro -  membro investigador do CLEPUL-UL

Publicado por Re-ligare às 18:04
Link do post | Comentar | Favorito

.Mais sobre Ciência das Religiões


. Ver perfil

. Seguir perfil

. 3 seguidores

.Pesquisar

.Posts recentes

. Quando um faz a diferença...

.Arquivos

.tags

. todas as tags

.Links

blogs SAPO

.subscrever feeds