Terça-feira, 25 de Agosto de 2009

A continuidade dos símbolos

Todos sabemos que os símbolos são das realidades que mais longamente acompanham a cultura. Na Turquia, no seu próprio símbolo principal, nacional, podemos ter um desses exemplos.

                         

A actual bandeira, com um crescente e uma estrela em fundo vermelho, retoma os principais elementos tradicionais islâmicos, assim como muitas tradições antigas da região.

              

(foto de Paulo Mendes Pinto, Setembro de 2007)

                

            

De forma mais clara, podemos ver estes mesmo símbolos no brazão de armas (não oficial, mas usado genericamente em todas as instituições:

                  

                            

                        

                    

O que é interessante, quando falamos de tradições na chamada Longa Duração, é verificar que estes mesmos símbolos viajam milhares de anos com muito poucas alterações:

                    

Baixo-relevo Neo-hitita, com cerca de 3 milhares de anos. Museu das Civilizações, Ankara.

(foto de Paulo Mendes Pinto, Setembro de 2007)

                     

                    

                           

Sarcófago da época romana, com cerca de 1800 anos, da antiga Hierápolis, actual Pamukkale (Castelo de Algodão).

(foto de Paulo Mendes Pinto, Setembro de 2007)

                            

Paulo Mendes Pinto

Dir. de Ciência das Religiões (1º e 2º Ciclos)

 

 

Publicado por Re-ligare às 00:08
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Sábado, 22 de Agosto de 2009

Peccatrix, meretrix e redentora: os significados de Maria Madalena

Se há santo no cristianismo com um lugar claramente ambíguo, esse santo é Maria de Magdala, festejada em pleno mês de Julho (dia 22). Os evangelistas referem-na (com a normal confusão de não se saber se as referencias são apenas a uma mulher ou a duas homónimas) 11 vezes. Apesar de termos tão poucos dados sobre a sua vida, a sua forma de estar, estamos perante um dos personagens que mais imaginação despoletou na cultura ocidental. Longe do que viria a ser o canon do lugar da mulher na igreja, Maria Madalena ocupa, ao lado de Maria, um lugar de grande proximidade a Jesus. Se uma era a mãe de Jesus, a outra... diz-se que participava da mais velha profissão ao cimo da terra. Pior curriculo não poderia ser apresentado para almejar um lugar no seio do grupo do messias. E, todavia, tinha-o. Não foi banida da história, foi usada em fases muito específicas em que a sua duplicidade trazia francas vantagens. O desprezo medieval pela sexualidade feminina é compensado pela crescente valoração de Maria Madalena, a prostituta arrependida, aquela a quem Cristo primeiro aparecera depois de ressuscitado, aquela que de meretrix passara a co-redentora. A piedade medieval, do fim da Idade Média, fez de Maria Madalena a Santa mais popular da história; Maria de Magdala é o resultado da síncrese de várias divindades: Maria Madalena, Maria de Betânea e ainda Maria Egípciaca. Em todas, a tónica é a da mulher que, pelo seu esforço e piedade, expiou os seus pecados, ou lhe foram perdoados directamente por Cristo. A Maria Madalena elaborada na Idade Média é a filha pródiga reencontrada, a virtude, a imagem perfeita de uma cristianização total Europa. Em Portugal são 67 as paróquias com esta santa como orago. A origem do culto em Portugal deve ter origem em dois santuários franceses muito em voga nos séculos XI e XII. Fora lá que a Santa, pela tradição, evangelizara, e se tornara eremita. Pois é também de França que vem, e não só para Portugal, uma das principais armas do novo papado empenhado na reforma Gregoriana, a profunda e definitiva evangelização da cristandade: Bernardo de Claraval. Mais, das nascentes Ordens Mendicantes, em pleno século XIII, uma escolherá Maria Madalena para seu patrono: os Dominicanos. Se tomarmos atenção à distribuição dessas 67 paróquias, vemos que o culto se localiza quase exclusivamente acima da linha do Tejo, mesmo as excepções não estão abaixo da linha da foz desse rio (Monforte e Portalegre). Verificando as várias levas, fases, de forais atribuídos durante a chamada Reconquista Cristã, há uma clara coincidência entre a estratégia de organização do espaço de D. Afonso Henriques, e de D. Sancho I, e a implementação do culto a Maria Madalena; ou melhor, até à descida para a linha do Tejo, a implementação do culto de Maria Madalena pode ter acompanhado a geral organização do território conquistado. Há uma coincidência cronológica e de implantação no terreno com os dois primeiros reinados portugueses; há ainda a notar que, apesar de ser um culto apenas localizado no centro e Norte do pais, a sua implantação tem, decerto, a ver com uma adaptação a meios não muito isolados, e com algum dinamismo comercial. O apoio que o papado dá ao nascente reino coincide com o crescimento do culto desta santa em França, com o nascimento das ordens mendicantes e com o nascimento do seu culto em Portugal. Tão útil para cristianizar em tempo de reconquista, de evangelização, Maria Madalena sempre ocupou um outro fascínio na nossa cultura: o pecado e não a redenção. Em 1768 era lançado um edital que proibia o livro Madalena, pecadora, amante e penitente. O campo da pecadora, da amante era a que dava mais frutos no mundo moderno e contemporâneo. Uma breve pesquisa num motor de busca da internet revela-nos um dos campos onde o nome Maria Madalena mais é usado: a prostituição e a pornografia. Paulo Mendes Pinto (dir. Lic. em Ciência das Religiões)

Publicado por Re-ligare às 03:28
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