Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2009

Vaticano: Bento XVI solidário com os judeus, condena negação do Holocausto

 

28 de Janeiro de 2009,

Cidade do Vaticano, 28 Jan (Lusa) - O Papa Bento XVI afirmou hoje a sua «solidariedade» com os judeus e condenou a negação do Holocausto, após as declarações de um bispo fundamentalista a negar a existência das câmaras de gás.

Bento XVI também pediu aos quatro bispos fundamentalistas, aos quais anulou a excomunhão, para reconhecerem «a autoridade do Papa e do Concílio do Vaticano II», que rompeu com a tradição cristã de atribuir aos judeus a morte de Cristo.

«O Holocausto deve ser para todos um aviso contra o esquecimento e a negação», disse o Papa numa declaração a concluir a audiência geral semanal.

Na terça-feira, o Vaticano divulgou um comunicado do superior-geral da Congregação Santo Pio X, ultraconservadora, no qual pede "perdão" ao Papa e a "todos os homens de boa vontade" depois de um dos seus bispos ter declarado que nenhum judeu foi gaseado durante a Segunda Guerra Mundial.

O bispo Bernard Fellay, superior geral da sociedade tradicionalista Santo Pio X, declarou que a sua congregação não partilha os pontos de vista do bispo Richard Williamson sobre o que Fellay chama "genocídio" dos judeus pelos Nazis.

No comunicado, afirma que proibiu Williamson de falar em público sobre quaisquer questões históricas ou políticas a partir de agora.

O serviço de imprensa do Vaticano divulgou a nota de Fellay no âmbito das tentativas para acalmar as críticas dos judeus de que Bento XVI retirou a excomunhão de Williamson apesar dos seus pontos de vista sobre o Holocausto.

"As afirmações de Williamson não reflectem de modo nenhum a posição da nossa Congregação. Por isso, proibi-o até nova ordem de fazer qualquer afirmação pública sobre questões políticas ou históricas", afirmou o superior da ordem.

Williamson garantiu no passado dia 21 de Janeiro, numa televisão sueca, que "não existiram câmaras de gás" e que apenas 300 mil judeus "e não seis milhões" morreram nos campos de concentração nazis, "mas nenhum foi gaseado", o que pôs em pé de guerra a comunidade judaica internacional.

No sábado passado, 21 anos depois de serem excomungados, Bento XVI levantou esta sanção aos quatro bispos consagrados pelo falecido arcebispo cismático Marcel Lefebvre em 1988.

Tratam-se de Bernard Fellay, superior da Fraternidade de Santo Pio X, o espanhol Alfonso de Galarreta, o francês Tissier de Mallerais e o britânico Richard Williamson.

Os quatro foram excomungados automaticamente ao serem ordenados por Lefebvre contra a vontade de João Paulo II. Lefebvre também foi excomungado, assim como o bispo brasileiro já falecido Castro Mayer, que participou na cerimónia.

A revogação das excomunhões coincidiu com as declarações negacionistas do prelado tradicionalista, que foram duramente criticadas pela comunidade judaica e qualificadas como una "infâmia" por Renzo Gattegna, presidente da União das Comunidades Judaicas italianas.

Gattegna exigiu ainda ao Vaticano que intervenha e "tome uma decisão" sobre Williamson.

O rabino de Roma, Riccardo Di Segni, assegurou que a reabilitação do prelado "abrirá uma profunda ferida no diálogo católico-judaico" e o rabino David Rosen, presidente do Comité Internacional Judaico de Questões Interreligiosas, disse que a Igreja ficava "contaminada".

EJ/TM/SRS.

Lusa/Fim

Publicado por Re-ligare às 21:23
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3 comentários:
De Anónimo a 2 de Fevereiro de 2009
É, pelo menos, estranho, o duplo discurso deste papa, que por um lado afirma a sua solidariedade com os judeus, e que simultaneamente reintegra de forma consciente, no seio da igreja da qual ele é o infalível pontífice , prelados que declaradamente manifestam a sua hostilidade contra os judeus. Continuam a julgá-los culpados da morte de Jesus, negam publicamente o holocausto do qual estes foram vitimas durante a 2a guerra mundial, desinformam voluntariamente a opinião , e alimentam uma onda de impopularidade contra o povo judeu.
E o momento parece oportuno, pois a actualidade até parece querer mostrar Israel como um povo “sem dó nem piedade”.
Para além das vozes dos rabinos e de alguns (poucos) intelectuais que se levantaram para condenar tal discrepância , o assunto não parece interessar e ainda menos preocupar a opinião publica e em particular os católicos
Isto é profundamente lamentável , escandaloso, revoltante, e deixa poucas esperanças para um dialogo inter-religioso honesto e frutifero.

Samuel R. Rodrigues

De Anónimo a 5 de Fevereiro de 2009
Então e o facto de ele ter pedido desculpa ao Papa, do Superior da Fraternidade ter condenado e proibido que o bispo voltasse a falar sobre o assunto, que só um dos bispos tenha dito o que disse (e quase ninguém o ouviu dizer isso, apesar de ter estado no youtube) e, principalmente, um facto quase desconhecido, o do pai do Msr. Lefebvre que morreu... num campo de concentração nazi!? Nada disso interessa? Estranho é que isto esteja a causar o escândalo que está. É uma estupidez (a negação do holocausto)? É. Mas, para um bispo, mais estúpido seria a negação de Deus. Se tal acontecesse, porém, duvido que alguém se incomodasse.
De Samuel R. Rodrigues a 8 de Fevereiro de 2009
Prezado desconhecido,
Permita-me reagir ao seu comentário sem desejar magoar a sua sensibilidade, que é digna de respeito.
Tem toda a razão ao dizer que: “o que seria estúpido para um bispo seria a negação de Deus”. Ora foi isto mesmo que o bispo Williamson fez, ao negar a verdade histórica e comprovada pela sua geração e reafirmada por aquele que não é falível segundo o dogma que confessa, isto é, o sumo pontífice. Ao negar a verdade estabelecida ele está a negar Deus, pois “Deus não é homem para mentir”.
Quem quer que seja pode ter acesso aos factos históricos e comprovar a verdade das câmaras de gás. Eu próprio estive em Awchvitz , e posso confirmar ter visto os vestígios e a documentação necessária para rapidamente não ter qualquer dúvida sobre o assunto.
Mas o senhor Williamson persiste e assina, com novas declarações abjectas que não são dignas de um homem dessa posição.
Lamento que a igreja católica romana, que durante estas ultimas décadas, tem feito passos interessantes para uma nova atitude em relação aos outros, esteja a regressar para uma posição elitista e possa continuar a aceitar declaradamente no seu seio movimentos anti-semitas.

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