Ao longo de 25 anos, João Paulo II visitou oficialmente Portugal três vezes. A primeira, apenas quatro anos depois da eleição. Bento XVI não tem as razões "extra" de João Paulo II, nem a longevidade - tem 82 anos - para repetir a marca do antecessor. Mas é de registar a opção de visitar Portugal ao quinto ano de pontificado.
No início de Setembro, o porta-voz do Vaticano esteve em Fátima num encontro com jornalistas. Disse que o anúncio de uma eventual visita a Portugal do papa alemão estaria para breve. E não hesitou em fazer a ponte com o antecessor. "Bento XVI sabe que Fátima é muito importante para o mundo católico", explicou o padre Federico Lombardi.
Uma rápida sondagem entre as motivações emocionais dos peregrinos revelará que João Paulo II continua a ser "o Papa de Fátima" e Bento XVI gozará ainda desta empatia.
Porquê em 2010?
Bento XVI é um papa institucionalista. Preza a memória de longo alcance. Valoriza identidades e símbolos. Na canonização de D. Nuno Álvares Pereira, a homília de Bento XVI salientou a relevância histórica e patriótica da figura. Longe de questiúnculas ideológicas e bafientas, só compreendidas por quem conhece as idiossincrasias do século XX português, evocou o novo santo, sem preconceitos, como "herói" que "contribuiu para a independência de Portugal" em relação a Castela.
Na mesma linha, estará a opção de aceitar o convite para visitar Portugal em 2010. No centenário da Implantação da República. Data fundamental e simbólica. São 100 anos de memórias e desencontros. A Implantação da República abriu profundas feridas nas relações entre a Igreja e o Estado, ainda por sarar junto de alguns sectores da sociedade portuguesa.
Com esta visita, o Papa cria uma oportunidade para a reflexão sobre o fenómeno religioso e as relações entre as instituições religiosas e o Estado laico.
A visita em Maio de 2010 pode também condicionar a agenda política. Seja qual for o governo ou a tendência política dominante, Bento XVI não deixará de reafirmar a posição da Igreja sobre alguns temas "fracturantes" na sociedade. Prevenindo eventuais dissabores diplomáticos e políticos, poucos estarão disponíveis para antecipar no parlamento discussões como o casamento de homossexuais ou o testamento vital.
A agenda de Bento XVI em Portugal vai ser cautelosamente preparada. Num pontificado marcado por polémicas inter-religiosas - com os muçulmanos na sequência do discurso de Ratisbona e com os judeus depois do caso Williamson - o papa alemão terá em Lisboa também uma oportunidade única.
Antes ou depois de passar por aquele que é conhecido como o "Altar do mundo", Bento XVI podia revelar ao mundo o exemplar caso português de bom relacionamento entre religiões. Um encontro com os líderes de várias religiões, em Lisboa, seria um sinal…
Joaquim Franco
(texto editado na SIC Online)
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