Sexta-feira, 21 de Agosto de 2009

Para que nos servirão os imigrantes? O empreendedorismo seria apenas um campo

Neste Agosto em que, como em todos os outros Agostos das últimas décadas, Portugal recebe os seus imigrantes mundo fora, merece a pena reflectir um pouco sobre as funcionalidades dos imigrantes em Portugal. Ainda há poucos dias, este jornal (Público de 10 de Agosto) fazia capa com uma notícia brutal: “Há imigrantes a trabalhar sob violência, extorsão e medo”. Esta realidade é a imagem mais clara de que não sabemos como lidar com esta magnífica oportunidade que são os imigrantes. Estamos, literalmente, a jogar fora a “galinha dos ovos de ouro”.

É claro que os que lerem estas linhas conseguem, sem grande dificuldade, levantar algumas objecções a este meu quadro idílico. Até posso concordar em alguns aspectos com eles, sendo clara, por exemplo, a necessidade de criar mecânicas e processos que não levem os imigrantes ao crime, por exemplo. Mas há vantagens que são em muito maior escala e valor. Para além do que podemos verificar facilmente, a natalidade e o combate ao envelhecimento da população, a contribuição para o PIB e para a Segurança Social, há campos de “mentalidade” que deveríamos aproveitar e estimular.

Há quase vinte anos, estive nos arredores de Paris na casa de uma dessas famílias imigrantes portuguesas que poderiam vir de férias neste Agosto. Mas não. A sua relação com Portugal era complexa e, acima de tudo, inexistente. Saíra das beiras nos anos cinquenta, fugindo a um destino que sabiam muito claro: a miséria sem luz ao fundo do túnel. Nas suas palavras, transparecia ingratidão, abandono, magoa. Um imigrante é isso mesmo, um ser brutalmente frágil por se ver obrigado a romper com o cordão umbilical. Facilmente esse processo é traumático.

Felizmente, em França foram bem integrados. O agradecimento a esse país estranho onde entraram sem sequer conhecer a língua era uma ponta de sol naqueles olhos. Nem todos os portugueses foram bem acolhidos nos destinos de demanda de melhor futuro. Tal como nem todos os tailandeses, por exemplo, são mal acolhidos em Portugal. Mas, com dezenas de anos de imigração, com vagas de milhares de nacionais a seguir para o Brasil, para os EUA, para o Canadá, para França, para a Suíça, para o Luxemburgo, entre tantos outros países, era tempo de colocar em prática o que aprendemos enquanto sociedade sobre esses fenómenos.

Com uma matriz cultural muitas vezes bem diversa, diferente em relação à católica maioritária em Portugal, muitos destes imigrantes vêm de sociedades mais laicizadas onde o culto ao trabalho e a valorização do empreendedorismo são valores fortes. Da Europa de Leste, onde a formação técnica e cultural é de uma grande solidez, do oriente asiático, onde a determinação pelo trabalho é uma constante, de espaços diversos protestantes e evangélicos, onde não se aponta o enriquecimento como uma mácula, mas sim como uma bênção, estes imigrantes são uma potente mais valia em fase de possível retoma económica. Para que serve um imigrante no seu país de destino?

Exactamente, serve para aquilo a que ele vai: trabalhar. Então, que a relação seja simbiótica: que ele trabalhe da melhor forma que sabe e puder. Acolhidos e acolhedores agradecerão e guardarão memórias de gratidão.

              

Paulo Mendes Pinto

(dir. Lic. em Ciência das Religiões)

Publicado por Re-ligare às 00:55
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