(Foto retirada daqui)
Ao visitar o Minarete Qutbar, em Delhi, o segundo monumento mais visitado na Índia, após o Thaj Mal, ouve-se a história repetida em muitos lugares turísticos. O Sultão chegou, cheio de poder, e quis construir a maior mesquita, minarete de 15 metros de diâmetro e 70 de altura. Faltava pedra mas havia muitos templos hindus à volta. Está resolvido: a pedra deles serviu. Já bem trabalhada de ricos baixo relevos. Minarete e mesquita foram erguidas. Depois veio outro sultão e quis fazer minarete ainda maior, tudo a dobrar, base e altura; não lhe faltou pedra mas vida para o acabar. Agora os milhares de visitantes contemplam ruinas dos templos, da mesquita e do minarete inacabado. Assim passa a glória humana…
Há um monumento a Gandhi; e um museu no local onde ele falou pela última vez e onde foi assassinado. O mapa fornecido no hotel assinala o monumento a Gandhi mas não o museu. Será por nele Gandhi falar do Deus único? O museu é, de facto, uma biografia impressionante deste santo que fez a diferença para Índia. Profetizou poucos instantes antes dar a vida. Todo o parque e museu é um lugar de meditação religiosa e apelo à fé no Deus único que ama perdoando ao arrependido e que quer estar no seu coração mesmo quando é assassinado: “Deus deve estar no meu coração e nos meus lábios” quando me matarem, disse Gandhi. Ah isto, sim, dirá alguém, é uma religião, o hinduísmo! Vamos ver.
A segunda figura mais venerada de toda a Índia, dizem não poucos, é a Beata Madre Teresa, pelo que ela foi, fez de bem e disse. Ah! assim, sim, dirão outros, isso é que a fé cristã católica. Afinal um Hindú e uma Católica fazem a diferença na Índia, hoje. Por cada um ou uma que faz a diferença poderá haver mil que não fazem qualquer diferença.
Nas leituras litúrgicas do dia seguinte, lia-se a narração de Israel no tempo dos juízes e o esquecimento da aliança com o único Deus e entrega à adoração de ídolos. Deixavam de fazer a diferença como crentes. E no evangelho era a história do homem que queria saber o que devia fazer durante a vida para ter a vida eterna. Não estava disposto a trocar os seus ídolos de riqueza por Jesus Cristo e a segui-lo. Não fez a diferença.
Para fazer a diferença, o homem e a mulher, precisam de sinceridade e harmonia entre o seu dizer e o seu acreditar, o que se acredita de Deus com palavras e o que se vive: nunca fazer mal para conseguir o bem. Acreditar e viver que Deus é um só e ama a todos e nunca aceita o ódio como cultura, nem que a “caraterística da nossa época tenha de ser o crescimento da cultura da “ofendidade” (offendedness)” orgulhosa, (vulgo, indignação dos “indignados”), como dizia o famoso romancista Salman Rushdie, in Mail Today, Sunday, August 18,2013. Gandhi e Madre Teresa fazem a diferença, um acreditando num Deus único de amor e perdão no coração e nos lábios, a outra acreditando nesse mesmo Deus Pai de todos e no seu Filho Jesus Cristo, rosto visível do Pai, presente em todos miseráveis, mesmo dalits e caminhando com todos. Um guia também reconheceu que ajudar um só que seja dos muitos mendigos e miseráveis que assediam os turistas, já faz a diferença. Nem Mahatma Gandhi convenceu a todos com o seu exemplo, nem a Madre Teresa resolveu a miséria de todos os miseráveis da Índia; e nem Jesus Cristo no seu tempo curou de todos os males temporais a todos os sofredores; nem foi principalmente para isso que Ele incarnou e viveu nas tendas humanas. Veio para remediar males maiores, os do ódio e do amor, os da vida até à eternidade. Mas os três fizeram a diferença.
Nova Delhi e Agra, agosto de 2013
Aires Gameiro - membro investigador do CLEPUL-UL
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