O ensaio que hoje me proponho aqui apresentar, não sendo filosófico na forma, sê-lo-á, em certa medida, no conteúdo ou pelo menos, na natureza.
Tudo se passou quando eu comecei a dar a entender à minha avó (alentejana, católica, de 82 anos) que eu andava a aprender a praticar Salat (oração ou, mais propriamente “ligação”), junto da comunidade islâmica de Lisboa. Ou seja, segundo a minha avó, a “rezar aquela oração do cú pró ar”. Atenção que estas foram as palavras da minha avó, longe de mim querer denegrir o Salat. Quero expor apenas as ideias feitas sobre as coisas, coisas que, sobretudo em matéria de Religião, vão bem para além das ideias que delas se fazem.
Então a minha avó perguntou-me: “Porquê que rezas com esses do Islão? Tu gostas disso? Isso não são aqueles que andam sempre a matar gente? Aqueles que andam sempre em guerra?”
“Deus é Paz e a Paz vem dele, e que a Paz esteja sobre Gabriel!”
Alcorão I.H. 156
Este é o preconceito nº1, o de que os muçulmanos são violentos terroristas, que temos que saber parar, porque é falso. E porque no senso comum, esta ideia circula de forma dogmática e epidémica.
A minha avó não ficou muito preocupada. Infelizmente, as facções violentas da sociedade não se deixam serenar tão facilmente e andam ao gosto destas imagens, destas ideias feitas sobre as coisas.
Agora podemos ver um pouco o preconceito nº2. E esse sobre estes dois que nos empenharemos doravante a trabalhar com vista a decompô-los, desenleá-los, desincrustá-los, ameniza-los desfazê-los.
Se o Islão fosse machista e se o Islão tratasse mal as mulheres, então como explicar que o Islão faça as muçulmanas tão belas? (“Deus é bonito e ama a beleza” palavras do Profeta, que a paz esteja com ele). Os gestos calmos nos dedos finos, as entoações que são harmonias, a vida reluzente no resguardado olhar e alegria da convivência entre elas, lá no mundo delas. Por favor… “eduquemos” o nosso próprio olhar.
Depois a minha avó foi rezar o terço e eu fui estudar árabe, em salas separadas.
Francisco Ferro
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